Nos últimos anos a compreensão e o avanço da pauta de combate ao racismo avançou no Brasil. Primeiro no poder público e depois espraiou-se pela esfera privada, no caso, principalmente as grandes empresas.
Em um movimento sem precedentes, o poder público não só liderou como avançou, implementou e mantém-se muito à frente das empresas quanto a questão racial. Basta lembrar que a constitucionalidade das cotas raciais (ações afirmativas) foi decidida pelo Supremo Tribunal Federal em 2012. A Lei nº 12.711 que estabelece as cotas raciais nas universidades federais, também é de 2012.
A USP, Universidade de São Paulo, última das grandes universidades a adotar o sistema de cotas, o fez em 2016. O primeiro programa de cotas no ensino superior foi implantando na UNB – Universidade Federal da Bahia, em 2004.
Justamente em 2016, ganha força nas empresas as discussões quanto a temática racial, fruto de uma convergência e de uma pressão nacional e internacional, inclusive decorrentes do ESG, que no mundo já é uma construção antiga, mas que ganhou ampla visibilidade no Brasil no decorrer de 2020 e principalmente em 2021.
Mesmo com toda a movimentação no ambiente corporativo nos últimos 5 anos, potencializada pelo caso George Floyd nos EUA e João Alberto no Brasil, avançamos no discurso e na compreensão do problema racial, mas seguimos com intervenções práticas tímidas e sem estruturação de longo prazo, o que reforça o que tem sido a tônica das últimas décadas, culminado em resultados muito aquém do necessário, quando não inexistentes.
Por exemplo, quanto a discriminação salarial entre negros e brancos no mercado de trabalho, onde negros chegam a receber até duas vezes menos que brancos, estamos na mesma página há pelo menos 20 anos. Aliás, basta olhar o estudo publicado em 2021 pelo IPEA, que mapeou a desigualdade salarial entre negros e brancos no Brasil, nas ultimas 3 décadas.
A composição dos quadros das grandes empresas também pouco se alterou. Segundo o Índice de Equidade Racial nas Empresas (2021), desenvolvido pela Inciativa Empresarial pela Igualdade Racial, através do DataZumbi, instituto de pesquisas da Universidade Zumbi dos Palmares, com a participação de mais de 40 das maiores empresas do país, homens negros são menos de 10% nos cargos de Gerência e Supervisão, e 3,3% nos cargos de Diretoria e Conselhos de Administração, mulheres negras são 5,5% e 0,8, respectivamente.
Em meio a um cenário que é já complicado por natureza no Brasil, chegamos a 2022 com uma das mais importantes missões da nossa história recente, a saber: a renovação pelo congresso nacional da lei que instituiu as cotas raciais no ensino superior federal brasileiro, a já citada lei 12.711/12.