Os desafios para a democratização étnico-racial nas empresas

O ano de 2021 foi significativo em promover o aumento do debate sobre a diversidade no mercado de trabalho e os impactos e benefícios que ela proporciona para todos os intervenientes, ou seja, empresa, funcionários, representantes dos diversos grupamentos sociais, consumidores, investidores e sociedade.

Entretanto, apesar da ampliação do campo de compreensão e das discussões nas esferas de trabalho através de treinamentos, cursos, palestras, implantação de comitês de diversidade, e diversos fóruns de discussões, a realidade prática não apresentou alteração de forma substancial que nos permita caracterizar como avanço na adoção de práticas empresariais efetivas para a mudança da estrutura organizacional reinante no mercado.

Essa afirmação fica materializada através dos resultados obtidos no IERE 2021 (Índice de Equidade Racial nas Empresas). Em um comparativo entre as versões de 2020 e 2021 observamos uma retração do percentual de ascensão de negros nas empresas, passando de 3,58% para 3,52%, respectivamente. Esse percentual demonstra claramente a dificuldade, resistência e a falta de políticas das empresas em adotar concretamente ações que transformem essa condição de homogeneidade de suas estruturas hierárquicas, onde temos predominância de profissionais do gênero masculino e brancos, ignorando-se completamente a existência dos demais grupos, caracterizando a manutenção de uma política de cotas do privilégio favorecendo o conjunto de pessoas dominante no mercado de trabalho.

Em 2015, o Instituto Ethos fez uma pesquisa para traçar o perfil social, racial e de gênero de funcionários e apontar as políticas e ações afirmativas adotadas pelas 500 maiores empresas brasileiras em favor da diversidade, da igualdade de oportunidades e da equidade na força de trabalho.

No que tange à composição do quadro funcional por cor ou raça, o estudo indica que os negros são sub-representados em relação aos brancos e enfrentam um afunilamento hierárquico que os exclui dos cargos mais elevados. Entre as empresas respondentes, os negros foram maioria nos grupos de aprendizes (57,5%) e trainees (58,2%), mas têm participação de apenas 6,3% na gerência, 4,7% no quadro executivo e 4,9% nos conselhos administrativos, o que comprova o total desequilíbrio de oportunidades.

Em um país de predominância multiétnica nada justifica essa dificuldade das organizações em tomarem decisões práticas, através de seus altos escalões decisórios, atendendo os pilares preconizados pelos princípios do ESG (ambiental, social e governança, na sigla em inglês) que tanto tem orientado o caminho a ser seguido para a sustentabilidade das empresas e respeito aos anseios sociais.

E o ano de 2022 pode apresentar uma situação bastante distinta até então, considerando-se o aprendizado das organizações com a temática, o acirramento das exigências dos consumidores e dos investidores, a discussão que certamente o ano eleitoral provocará sobre o assunto, bem como a campanha Cotas Sim que visa a aprovação no Congresso Nacional dos projetos de lei para a renovação das leis de cotas raciais na educação e administração pública defendida por diversas lideranças do espectro social.

Esse momento demonstra-se extremamente adequado para o mundo empresarial posicionar-se definitivamente a favor da adoção prática de ações de inclusão e diversificação, servindo como referência no mercado, cumprindo seu papel social, compreendendo a sociedade em que estão inseridas e provocando uma verdadeira revolução de integração e superação da exclusão histórica das pessoas.

E tudo isso será possível atendendo os princípios basilares do objetivo empresarial de busca de resultado e performance através das pessoas e para as pessoas. O bom resultado empresarial significa crescimento da economia, geração de emprego e renda, desenvolvimento do País, além da possibilidade única de construir uma sociedade mais equânime, justa e democrática.

Diante desse cenário é possível projetar o ano de 2022 como o ano que pode entrar para a história da superação de desequilíbrios sociais históricos capitaneado pelas organizações empresariais. Essa oportunidade está colocada como a maior contribuição que o mundo empresarial poderá realizar na construção da nova realidade democrática e social para o País.

 

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