Para lideranças, falta pragmatismo na agenda ESG, que deveria ser abordada como um problema do negócio

Fonte: Época Negócios

Se as grandes empresas desejam mesmo avançar em suas metas de sustentabilidade e diversidade, precisam tornar a agenda ESG um problema do negócio — inclusive medindo seu impacto na sustentabilidade financeira da corporação, defende Andrea Rolim, presidente da Kimberly-Clark Brasil. “Tenho um incômodo grande quando discutimos o tema [ESG] distante do negócio. Essa agenda precisa ser encarada com mais pragmatismo, metas e um processo que acompanha o negócio”, defendeu a executiva durante painel no 3º Fórum Brasileiro do Capitalismo Consciente, realizado nesta quarta-feira (20), em São Paulo, pelo Instituto Capitalismo Consciente Brasil (ICCB).

Andrea dividiu o palco com Fernando Modé, CEO do Grupo Boticário, e Edvaldo Vieira, consultor e antigo CEO da Amil (a UnitedHealth Group, dona da Amil, fechou seus cargos de liderança no Brasil em março deste ano). Intitulado “Não é porque é grande que é fácil — As falhas no caminho para o sucesso”, o painel convidou as lideranças a debater sobre os desafios de endereçar a agenda ESG dentro de grandes corporações de forma efetiva.

Fernando Modé concordou com Andrea: “A gente não acredita em sustentabilidade, diversidade e inclusão dissociadas do negócio. Lidamos com o tema como qualquer outro endereçado pela empresa, não como um apêndice”. Para exemplificar, o executivo relatou que o grupo tem 6,5 mil produtos em desenvolvimento na área de P&D e que nos critérios de aprovação já estão inseridos, além das projeções de resultados financeiros, “meio-ambiente” e “diversidade” — isto é, os produtos não chegam ao consumidor se não atendem a esses dois tópicos definidos previamente, segundo a empresa.

Edvaldo Vieira lembrou da necessidade de letramento por parte das lideranças — especialmente em relação à diversidade racial. “Ações afirmativas são extremamente importantes nas corporações. Não se trata de caridade, mas de oportunidade. Vemos a presença de profissionais negros diminuir conforme aumenta o grau de liderança, muitas vezes chegando a zero. As organizações e os líderes precisam entender seus vieses inconscientes e resolver os problemas por meio de processos e de indicadores”, afirmou.

O mercado financeiro está preparado?

Durante a tarde, no painel “Como pagar essa conta? A visão do mercado financeiro junto ao Capitalismo Consciente”, Renato Eid, partner do Itaú Asset Management, Vanessa Reisner, diretora do Programa Avançado em ESG do Women in Innovation Brazil, e Alan Soares, CSO e fundador do Movimento Black Money, discutiram alternativas para alavancar recursos pela via do capitalismo consciente. O debate foi mediado por Thais Lopes, consultora e fundadora da Mães Negras do Brasil, que abriu a conversa com a provocação: “Existe capitalismo consciente?”.

Vanessa Reisner respondeu dizendo que é possível exercitar o capitalismo consciente, principalmente, motivado pelas mudanças de comportamento do consumidor. “Tudo começa pelo consumo. O consumidor das novas gerações tem um jeito diferente de fazer escolhas e as empresas vão começar a prestar mais atenção nesse cliente. No outro lado dessa equação, os investidores começam a pedir informações não financeiras para as empresas, informações que dão dicas de como é feita a gestão, por exemplo. A partir daí, os financiamentos e modelos de crédito começam a validar e dar taxas distintas para investimentos diferentes também”, descreveu.

Alan Soares se posicionou dizendo que não acredita em capitalismo consciente: “Acredito que as pessoas possam ser conscientes, mas um sistema econômico não pode ser consciente. O capitalismo deriva da exploração do indivíduo e do meio ambiente com o objetivo de gerar lucro. Nós, como indivíduos, podemos tomar a decisão de investir em algo que agrida menos o meio ambiente, por exemplo, mas o capitalismo por si só não”, disse ele, citando como exemplo positivo a iniciativa do Grupo Gaia que criou um CRA do MST.

Renato Eid lembrou de iniciativas que os agentes do mercado financeiro podem utilizar para direcionar o capital para uma agenda ESG, e criticou quem confunde alocação de capital em práticas sustentáveis com filantropia. “Primeiro, é importante integrar esses aspectos dentro dos nosso processo de investimentos. Poderia olhar apenas aspectos financeiros das empresas, mas estaria negligenciando uma parte relevante de riscos e oportunidades”, disse. “Filantropia tem sua importância na sociedade, mas não se trata disso. O que estamos fazendo é alinhar as variáveis financeiras às sociais e ambientais. Trata-se de alinhar meu capital em direção a essa agenda relevante”, acrescentou.

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