O Blackwashing da Folha de São Paulo

Novamente chegamos em mais um 21 de março com as cotas sob ataque de artilharia pesada. Não é de se espantar que na sociedade ainda haja dissenso, mas jornais como a Folha de S.Paulo publicarem um editorial dizendo que são contra as cotas raciais e a favor unicamente das cotas sociais, é de uma desfaçatez sem tamanho, além de um negacionismo.

A Folha ao fazer isso renega todos os estudos oficiais produzidos no mínimo nos últimos 30 anos que escancaram o problema racial no Brasil.

Inclusive presta um desserviço ao noticiar com um forte viés ideológico partidário e que causa desinformação em uma tema já tão complexo.

Primeiro poque as cotas já são sociais, o critério não é apenas raça, há as cotas para oriundos da escola pública. As cotas abrangem negros, indígenas e oriundos da escola pública.

Segundo, porque a justificativa da Folha para o fim dos programas de cotas, baseou-se em meia dúzia de casos pinçados em mais de 5000 avaliações de verificação étnico raciais (heteroidentificação) realizadas no processo para ingresso na USP.

Terceiro, porque a solução da Folha de S.Paulo para os casos tidos por ela como equivocados é extinguir as cotas raciais, relegando um dos maiores cases de transformação da historia do país a lata do lixo.

Quarto, porque ficou nítido que o programa realizado de Trainee para profissionais negros em 2023, bem como as pessoas e articulistas negros convidados para compor suas fileiras não passou de blackwashing.

A Folha agiu nos seus próprios quadros com base nas ações afirmativas, mas agora vem a publico dizer que nao acredita nelas, inclusive que são um erro!

Chega a ser hilária a desfaçatez do articulista ao ter escrito no infame editorial que a renda familiar tem expressão em números, não em ideias discutíveis sobre o que constitui raça.

O Dia Internacional da Luta pela Eliminação da Discriminação Racial foi proclamado pela ONU, em memória das 69 pessoas mortas no chamado Massacre de Shaperville, em Johanesburgo, quando participavam em 21 de março de 1960, de um protesto contra a Lei do Passe.

A Lei do passe obrigava as pessoas negras a apresentarem uma espécie de carteira de identidade que informava para onde tinham permissão de ir, arriscando-se, em caso contrário, à prisão, ou a pagar multas.

As pessoas que tombaram nesse dia, talvez ajudem a Folha, 64 anos depois, a compreender a tal ideia discutível sobre raça.

Mas nem tudo são dores. Aquela que um dia foi a última das Universidades a implementar o sistemas de Cotas, hoje esta na linha de frente da sua defesa.

Viva USP que nesse dia mundial de resistência, representa todos aqueles negros e não negros que não se conformam em viver uma sociedade que discrimina.

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