Relatórios de ESG: divergências e unanimidades nas empresas

Fonte: Exame

Um dia há de ser premiada num ranking corporativo que ainda não existe a empresa que for capaz de possuir sobre si percepções semelhantes vindas da alta liderança e do corpo de funcionários. Já perceberam que elas nunca batem? Escrevi aqui no começo do ano sobre a distância que existe entre o topo e a base das organizações em relação ao entendimento que possuem das questões de diversidade e inclusão. Uma nova pesquisa, recém-concluída, mostra que líderes e liderados divergem também sobre o estágio em que suas corporações estão com os relatórios de ESG.

De acordo com a pesquisa, 62% dos altos executivos creem veementemente que sua empresa aplica aos relatórios de ESG a mesma diligência destinada aos relatórios financeiros, contra apenas 32% dos gerentes que acreditam na mesma coisa. Não há concordância nem sequer sobre esta pergunta: “A sua organização nomeou alguém internamente para a função específica de ESG, para supervisionar relatórios e iniciativas?” Enquanto 87% dos executivos disseram sim, entre os funcionários a taxa ficou em 67%.Como se supõe que uns e outros não tenham mentido deliberadamente, muito provavelmente estamos diante de uma falha de – sempre ela – comunicação! Outra explicação, segundo os organizadores da pesquisa, é que este gap indica que as medidas operacionais que os líderes estão tomando não são suficientes ou acabam não sendo implementadas como eles gostariam.

A questão dos relatórios

O levantamento foi feito pela plataforma global especializada em relatórios Workíva, em parceria com o instituto norte-americano de pesquisas corporativas Ascend2. Foram entrevistados 926 profissionais de ESG, divididos em C-level, diretoria e gerência, de nove diferentes países localizados na América do Norte, Europa e Ásia-Pacífico. Todos os respondentes confirmaram que têm conhecimento sobre os relatórios de ESG ou responsabilidade por eles dentro de suas organizações.

 

Além de apontar as discrepâncias relatadas acima e algumas outras, o estudo também revelou alguns consensos que esbarram na unanimidade. Por exemplo, os profissionais de todos os níveis reconhecem que os relatórios de sustentabilidade/ESG geram valor. Nove em cada dez pesquisados concordam que, dentro de dois anos, bons reports de ESG trarão uma série de vantagens competitivas à empresa. E mais da metade deles afirma que a divulgação consistente já melhorou o desempenho da marca no que diz respeito a conhecimento e reputação.

Se a coisa só aumenta em importância, crescem também os desafios a serem enfrentados. A pesquisa apresentou uma lista com nove opções para profissionais escolherem aquelas que, na opinião deles, são as principais pedras no sapato de suas empresas na hora de reportar ESG. “Medir iniciativas qualitativas (por exemplo, diversidade e inclusão) ficou em primeiro lugar”, com 40% de respostas. Logo depois, empatados com 39%, ficaram dois desafios: “Ter conformidade com padrões ESG” e “Compilar dados de múltiplas fontes”.

A solução na forma de tecnologia

Como resolver a parada? Para os entrevistados, a solução tem nome. Chama-se tecnologia. Nada menos que 95% dos profissionais disseram que ela será cada vez mais fundamental para gerenciar com sucesso o processo dos relatórios. E 97% concordam que o acesso a tecnologia e dados desempenhará um papel essencial na tomada de decisões para que as companhias avancem com suas estratégias de ESG no futuro.

É fato que importância desses relatórios já é gigante e tende a crescer. Cada vez mais os reguladores exigirão que as empresas passem a incluir novas informações em suas divulgações regulares, e cada vez mais os investidores usarão esses documentos para tomar suas decisões de aporte de capital. Tenho dúvidas se um consumidor também leria esse tipo de catatau, mas certamente as principais informações ali contidas chegarão até ele de algum modo e serão levadas em conta na hora de tomar a sua escolha de compra.

No Brasil, muitas empresas ainda nem possuem relatórios de ESG. Elas certamente precisam se mexer. Como dar os primeiros passos? Para Danilo Maeda, head da Beon ESG, uma das chaves é a escolha de indicadores. “Um relatório de sustentabilidade se parece mais com uma enciclopédia do que com um romance. Ou seja, não se espera que seja lido de capa a capa, mas que as informações relevantes e úteis estejam disponíveis de forma precisa, confiável e no tempo certo. Para isso, é necessário refletir sobre os impactos mais relevantes e como medi-los”, afirma. Faz todo sentido. Estamos numa corrida contra o tempo para evitar que o mundo se torne ainda mais hostil nas questões ambientais e sociais. As empresas possuem um papel primordial nessa agenda. É preciso fazer mais pelo desenvolvimento sustentável. E medir melhor os impactos. E reportar tudo.

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